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domingo, 2 de abril de 2017

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PF DESARTICULA QUADRILHA QUE UTILIZAVA PORTO DE SANTOS PARA EXPORTAR DROGA




A organização, composta por 30 pessoas, acumulou patrimônio de mais de R$ 7,5 milhões

A prisão de dois homens em abril do ano passado, em Cubatão, contribuiu para que a Polícia Federal desarticulasse na última terça-feira (28), uma das quadrilhas que utilizam o Porto de Santos para enviar cocaína para à Europa.
A organização, composta por 30 pessoas e que acumula patrimônio de mais de R$ 7,5 milhões, foi alvo de 50 ordens judiciais em seis estados.
Como o grupo criminoso, a polícia localizou e apreendeu seis aeronaves de pequeno porte, 35 veículos, entre carros de luxo e caminhões, cinco imóveis, incluindo um aeródromo em Corumbá, na fronteira de Mato Grosso do Sul com a Bolívia, e bloqueou 68 contas correntes bancárias fraudulentas.
Dois dos 18 alvos da operação deflagrada pela Polícia Federal no Mato Grosso do Sul foram na Baixada Santista. Trata-se de uma dupla de narcotraficantes que pertence a uma organização criminosa que transportava cocaína para dentro do Brasil e exportava parte dela pelo Porto de Santos. Os federais estimam, inicialmente, que o patrimônio do grupo já ultrapassava os R$ 7,5 milhões. O valor e os bens são decorrentes dos crimes.

A operação, deflagrada ao amanhecer envolveu 150 policiais federais e chamada de All In, foi executada em 14 cidades dos estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, São Paulo, Goiás, e Minas Gerais. Eles cumpriram 50 mandados judiciais (18 de prisão cautelar, 25 de busca e apreensão e sete de condução coercitiva).
O delegado José Antônio Franco, responsável pela operação, explica que a organização criminosa importava a droga da Bolívia com recursos próprios. Os carregamentos eram comprados e transportados nos aviões do grupo e que voavam regularmente entre as fronteiras.
Já no Brasil, a cocaína era transportada em carros e caminhões para os estados do Sudeste. A maior parte se destinava à exportação. O destino principal era a Europa e, para isso, a droga era levada ao Porto de Santos, onde células locais a escondiam em navios e m contêineres.
Mais de 800 quilos
Em 27 de abril de 2016, agentes da Polícia Federal em Santos localizaram 500 quilos de cocaína, em 463 tabletes, com dois motoristas em um caminhão em Cubatão: Celso Luiz Lopes, de 62 anos, e Caio Luiz Carlone, 32 anos, detidos em flagrante e encaminhados à Penitenciária de São Vicente por tráfico.
“Nas investigações, que estavam em andamento, descobrimos que eles pertenciam a esta quadrilha, assim como o carregamento”, afirma Franco. De acordo com o delegado, eles foram ouvidos por agentes da Delegacia da Polícia Federal, em Santos, que colaborou com a operação.
A partir daí, um novo carregamento para o cais santista foi interceptado em setembro, desta vez na Capital paulista. Uma pessoa foi presa. Apreenderam 306 quilos da mesma droga e, como no outro flagrante, a pureza e qualidade da cocaína deixaram evidente que era tipo exportação.
Líder do grupo
Entre os presos da operação está Gerson Palermo, de 53 anos, considerado pela polícia o líder da organização. Ele foi encontrado em sua casa no Bairro Jardim Antártica, em Campo Grande (MS), no início da manhã. Velho conhecido da polícia e, consequentemente da Justiça, ele não apresentou resistência. A mulher dele também foi detida.
“Ele já foi preso seis vezes pela Polícia Federal. Há 30 anos ele atua no mundo do crime e, desta vez, a gente acredita que, pela robustez das provas, alinhada ao patrimônio (dele e do grupo criminoso) que a gente conseguiu sequestrar, a gente consiga, finalmente, tirá-lo de operação”, disse o delegado José Franco.
Em 2000, Palermo foi condenado pela Justiça a 20 anos de prisão por roubar um avião da extinta Vasp que levava R$ 5 milhões em malotes do Banco do Brasil no compartimento de carga. Ele teve a ajuda de oito homens na ocasião. A aeronave tinha 61 pessoas a bordo e faria a rota Foz do Iguaçu (Paraná) e São Luiz (Maranhão).
Gerson aparece também como um dos fundadores de uma facção criminosa e está entre os envolvidos de uma rebelião ocorrida em 2005 no presídio de segurança máxima de Campo Grande (MS). Desde 2010 ele cumpre pena em regime semiaberto. Segundo a PF, ele nunca deixou de praticar atividades criminosas.
Investigação
Apenas um dos 18 mandados de prisão cautelar não foi cumprido nesse dia. O foragido é o proprietário do aeródromo de Corumbá (MS), que também pertencia à organização. As investigações determinaram que o local era utilizado como pista de decolagem e pouso para o recolhimento internacional e a distribuição dos carregamentos ilegais pelo País.
Além disso, os trabalhos identificaram contas bancárias com nomes de laranjas para despistar as ações do grupo e lavar dinheiro. “Verificamos que eles utilizavam documentos de terceiros, com e sem consentimento deles. Quando a pessoa sabia, ela recebia em troca algum valor financeiro”, explicou o delegado.
Entre os casos de que havia o consentimento do uso de dados pessoais, Franco destacou o de doentes, debilitados e até de usuários de droga. “Temos o registro de três pessoas que vivem em cracolândia. Em outro caso, uma pessoa sem recurso era apontada como dona de uma das aeronaves da quadrilha. Nós a trouxemos à delegacia e a pessoa ficou surpresa”.
Ainda segundo os federais, o nome “All In” para a operação deflagrada faz referência a uma manobra do Poker. O jogador aposta todas as fichas em uma mão de cartas, assim como a organização criminosa que foi desmantelada, que arriscava transportando grande quantidade de entorpecente de uma única vez.
Organização
O delegado José Antônio Franco, responsável pela “Operação All In”, disse que as investigações se concentraram em desmantelar a organização, segundo ele, “muito bem estruturada”. Por isso, eventuais cúmplices na Baixada Santista, ponta final da cadeia logística no Brasil, ainda não foram identificados.
“A gente sabe que o grupo tinha núcleos muito bem definidos e, por isso, também atuava há muito tempo. Seja no transporte aéreo, na abertura de contas para lavar dinheiro ou então, para encaminhar a droga até São Paulo e chegar ao Porto”, disse o delegado. “Sabemos que os carregamentos passaram, mas ainda não sabemos quantos”.
A Polícia Federal, conforme o Jornal A Tribuna já noticiou, tem conhecimento de que no Porto de Santos atuam organizações criminosas diversas. A droga é transportada até a região, onde pessoas que tem conhecimento da rotina do porto local e da movimentação de navios ficam encarregadas do trabalho final: o embarque.
Somente neste ano, já foram apreendidos 3.017 quilos de cocaína no Porto de Santos, pela Polícia Federal e pela Receita Federal. Em 2016 o recorde histórico foi quebrado, quando o balanço das autoridades fechou dezembro último com ao menos 10,6 toneladas da droga interceptadas no cais santista antes de serem enviadas para o exterior.
Atenta a essa situação e para conter o avanço do narcotráfico no complexo portuário, a Organização das Nações Unidas (ONU) iniciou uma unidade de controle no cais santista. Trata-se de uma parceria estabelecida com o Fisco para ampliar o monitoramento de cargas e coibir eventuais ações criminosas. A instalação completa ocorrerá até o final do semestre.

Fonte: Jornal A Tribuna

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