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quarta-feira, 1 de setembro de 2021

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QUADRILHA RECRUTA CAMINHONEIROS E FUNCIONÁRIOS DO PORTO DE PARANAGUÁ EM ESQUEMA DE TRÁFICO DE DROGAS, DIZ DELATOR

 

RPC teve acesso à delação de Jorge Santos Zela, que foi preso pela PF na Operação Enterprise. No depoimento, ele deu detalhes sobre o caminho da cocaína despachada para outros países

A quadrilha investigada por exportar toneladas de cocaína pelo Porto de Paranaguá, no litoral do Paraná, recrutava caminhoneiros e funcionários do terminal de contêineres para mandar a droga para fora do país, de acordo com o homem apontado como um dos chefes do esquema.

O delator Jorge Santos Zela, o "Zóio", tem 37 anos e foi preso pela Polícia Federal (PF) na Operação Enterprise em novembro do ano passado, por tráfico internacional de drogas.

A PF afirma que Zela comandava um dos dois grupos que agem no Porto de Paranaguá, a mando de Sérgio Roberto de Carvalho, o "Major", chefe da quadrilha e ex-oficial da Polícia Militar de São Paulo. Ele está foragido.

A RPC teve acesso à delação de Jorge Zela, fechada com o Ministério Público e a Polícia Federal e homologada pela Justiça Federal. No depoimento, Zela deu detalhes sobre o caminho da cocaína despachada a partir de Paranaguá.

A cocaína saía de vários fornecedores da Colômbia, Peru, Bolívia e Paraguai, entrava no Brasil em aviões que pousavam nas fazendas da quadrilha e depois era transportada em vans e caminhões para vários portos do Brasil.

No depoimento, Zela explicou que a droga chegava a Paranaguá escoltada.

"Essa droga vinha de São Paulo geralmente, em vans e sprinters com carroceria. E esse pessoal vinha junto abatendo até chegar em Paranaguá. Eles me avisam antes de chegar aqui, o horário que eles iam chegar e eu marcava um local na entrada da cidade para cruzar com eles na BR e ir guiando eles até o lugar para descarregar", disse Zela.

Segundo ele, para levar a cocaína para dentro do terminal de contêineres a quadrilha recruta caminhoneiros que transportam produtos para exportação. A missão é entrar e esconder a droga dentro dos contêineres - o que a quadrilha chama de "contaminação".

"O [suspeito] colocou na cabine e foi em direção ao porto e, assim, lá dentro do porto tinha um pessoal já pronto para ajudar a contaminar né?", comentou Zela.

Esse "pessoal" a que Zela se refere são trabalhadores do terminal de contêineres, também a serviço do tráfico. De acordo com ele, um ex-funcionário do terminal foi recrutado pela quadrilha e montou uma equipe lá dentro.

"Ele tinha três pessoas cada turno, né? Tem quatro turnos no dia, mais ou menos umas 12 pessoas", revelou o delator.

Para a PF, Zela disse que o Major informa antes para que país a droga deve ser exportada e aí a equipe procura um contêiner com o mesmo destino.

"E o pessoal já se posicionava para contaminar o contêiner, da mesma forma, chegando do lado da pilha, abrindo a porta do motorista e colocando o material nos três funcionários e os três funcionários contaminando".

O delator disse que a quadrilha mandava, pelo menos, um carregamento de cocaína por mês desse jeito. Contudo, a Receita Federal descobriu o esquema e passou a fazer apreensões seguidas de droga no porto. Os traficantes, então, foram obrigados a mudar de tática.

Para tentar escapar da fiscalização, eles passaram a esconder os pacotes de cocaína no sistema de refrigeração dos contêineres, também com ajuda de trabalhadores do terminal.

"Trabalham para a própria TCP. A gente usava eles de dia para verificar espaço, abrir o contêiner, ver se tinha espaço para colocar dentro e efetuava, geralmente, um dia antes ou uma hora antes do navio", contou Zela.

A quadrilha exigia um comprovante de cada remessa.

"Eram funcionários [que lacravam o contêiner]. Eles colocavam material e tiravam foto. No começo faziam vídeo, depois só foto, e fechavam, lacravam e tiravam foto com o lacre novo", relatou Zela.

Parte do esquema ruiu em novembro do ano passado, na Operação Enterprise. A PF prendeu Jorge Zela e mais 39 pessoas suspeitas de tráfico internacional.

Além disso, também foram apreendidos carros e aviões, e a Justiça determinou o bloqueio de R$ 400 milhões em bens dos traficantes.

Desde essa operação, a Receita Federal fez mais 16 apreensões no Porto de Paranaguá, que somam mais de duas toneladas e meia de cocaína.

"Esse pessoal acaba sendo substituído. Você prende um, aparece outro e assim vai. Por isso que a gente tenta trabalhar em uns grupos maiores. A gente imagina que a estrutura do Major ainda esteja atuando. Certamente o que se mostra eficaz nesse sentido é a desarticulação financeira das quadrilhas. Esse sempre é um norte da PF de identificar questão de valores, patrimônio, para que eles sejam apreendidos e essas quadrilhas percam a sua capacidade de atuação", afirmou Sergio Luis Stinglin de Oliveira, delegado da PF.

O outro lado

A empresa que administra o terminal de contêineres em Paranaguá, Terminal de Contêineres Paranaguá (TCP), informou que observa todos os protocolos de segurança estabelecidos pelos órgãos competentes e que se colocou à disposição das autoridades para colaborar com as investigações.

A RPC não conseguiu contato com a defesa de Sérgio Roberto de Carvalho.

Fonte: RPC Curitiba - Texto: Wilson Kirsche, José Vianna e Diego Ribeiro 


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