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quinta-feira, 10 de agosto de 2023

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O PORTO VERMELHO DA BARCELONA BRASILEIRA

Dois movimentos ficaram marcados de maneira mais intensa na região portuária de Santos durante o regime militar: 1978 e 1980 - Foto: Arquivo A Tribuna
 
Santos é um dos berços do movimento operário brasileiro. Santos ficou conhecida como Cidade Vermelha e Porto Vermelho

Evidências históricas apontam que Santos é um dos berços do movimento operário brasileiro. Uma greve deflagrada em 1876 paralisou todas as padarias existentes na Cidade, e um dos objetivos era a libertação de escravos. Onze anos antes da Abolição da escravatura, em 1877, Santos viveu outra greve: carregadores de café batalhavam por melhores condições salariais numa época em que o “ouro verde” era o principal produto de exportação do Brasil.

Em 1891 ocorreu uma paralisação que, de acordo com fontes históricas, consubstanciou-se na primeira greve geral do País. Novas manifestações surgiram em 1905, 1908, 1912 e 1919, todas elas marcadas por grandes embates.

A predominância do comunismo era evidente, razão pela qual ganharam popularidade as alcunhas que intitulavam Santos como Moscouzinha, Cidade de Prestes e Porto Vermelho. As expressões Cidade Vermelha e Porto Vermelho de Santos foram utilizadas por Jorge Amado em Agonia da Noite (1954), para ilustrar uma batalha ideológica em que estivadores comunistas se mobilizaram contra o carregamento de um navio nazista que levaria café ao ditador espanhol Franco. Registros históricos apontam que essa ilustração literária teve como pano de fundo um fato de 1946.

Em 7 de março daquele ano, A Tribuna destacou na última página, destinada às matérias urgentes, que estivadores se recusaram a trabalhar a bordo do paquete espanhol Cabo de Buena Esperanza, em protesto contra a ditadura de Franco.

Todo esse contexto fez com que houvesse uma “atenção especial” a Santos no regime militar. Isso incluiu, lamentavelmente, a utilização de um navio-prisão, o Raul Soares. Antônio Fernandes Neto e Adriana Gomes Santos registraram, na obra Nem os Pombos Apareceram no Cais, as seguintes observações: “As humilhações vieram com o navio Raul Soares. Rebocado desde o Rio de Janeiro para Santos, serviu de prisão e local para a tortura física e mental dos trabalhadores".

Nesse período do regime militar, dois movimentos ficaram marcados de forma mais intensa na região portuária de Santos. Em 15 de março de 1978, cerca de 500 estivadores se revoltaram contra o atraso no pagamento de férias e 13º referentes a 1976 e 1977 e invadiram a sede do sindicato, que pelo sistema de closed shop gerenciava a prestação de serviços de estiva.

É interessante refletir sobre a influência que tal episódio pode ter exercido na criação do Novo Sindicalismo. Ao se insurgirem contra o sindicato que os representava (ou deveria representar), os estivadores desafiaram o próprio regime militar ao promoverem uma manifestação arrojada, enfrentando a liderança sindical que existia à época.

Os trabalhadores portuários entraram em cena novamente e, num confronto direto com o governo militar, paralisaram o maior Porto do Brasil e da América Latina de 17 a 21 de março de 1980. Nessa época, ganhou força a Unidade Sindical Portuária, com a congregação dos quatro sindicatos que representavam os trabalhadores da Companhia Docas de Santos (CDS), antecessora da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) na gestão do Porto, a atual Autoridade Portuária de Santos (APS).

O movimento operário no Porto de Santos certamente contribuiu para o surgimento do Novo Sindicalismo. Aliás, pode-se deduzir que os movimentos dos estivadores (1978) e doqueiros (1980) de Santos estavam integrados sistematicamente com as grandes greves do ABC e demais movimentos trabalhistas que eclodiram entre o final dos anos 1970 e início dos anos 1980. Um exemplo pitoresco dessa integração foi retratado por Adriana Santos e Antônio Fernandes, na obra já mencionada: “Houve dois momentos de euforia desses trabalhadores grevistas: um quando Bacurau anunciou que 16 sindicatos apoiavam a categoria, criando um bônus de greve para sustentar a resistência, e outro quando foi revelado que os metalúrgicos do ABC apoiavam os portuários e ofereciam, como ajuda, 10 mil sanduíches”. Essa postura revolucionária se estendeu pelas décadas seguintes no Porto Vermelho e ainda se faz presente no século 21, sob a roupagem de um “anarcos sindicalismo pós-moderno”.

Fonte: A Tribuna – Por Lucas Rênio


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