A ação é desdobramento da Operação Narco Vela, que teve
como foco a repressão ao tráfico de entorpecentes por via marítima a partir do Brasil
A Polícia Federal
(PF) deflagrou, na última terça-feira (14/10), a Operação Narco Bet, com o
objetivo de desarticular um esquema de lavagem de dinheiro vinculado ao tráfico
internacional de drogas.
A operação, com o
objetivo o cumprimento de 11 ordens de prisão e 19 mandados de busca e
apreensão em Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, contou com
a cooperação da Polícia Criminal Federal da Alemanha (Bundeskriminalamt – BKA),
responsável pela execução de medida cautelar de prisão em face de um dos
investigados atualmente localizado em território alemão.
Como resultado da
operação, foram cumpridos 11 mandados de prisão:
- Santa Catarina: Itajaí (1)
- São Paulo: Mogi das Cruzes (4), Bertioga (2), São Paulo (3), Santos (3), Barueri (2), Birigui (1), Igaratá (1)
- Rio de Janeiro: Rio de Janeiro (1)
- Minas Gerais: Lagoa Santa (1)
As medidas judiciais
incluíram ainda o bloqueio de bens e valores que somam mais de R$ 630 milhões,
visando à descapitalização da organização criminosa e à reparação de danos
decorrentes das atividades ilícitas.
A ação é
desdobramento da Operação Narco Vela, que teve como foco a repressão ao tráfico
de entorpecentes por via marítima a partir do Brasil.
As investigações
indicam que o grupo criminoso utilizava técnicas sofisticadas de lavagem de
dinheiro, com movimentações financeiras em criptomoedas e remessas internacionais,
voltadas à ocultação da origem ilícita dos valores e à dissimulação
patrimonial.
Apura-se, ainda, que
parte dos valores movimentados teria sido direcionada para estruturas
empresariais vinculadas ao setor de apostas eletrônicas, as chamadas BETS.
Compra de veleiro
De acordo com o site
g1 uma mulher sócia de uma empresa envolvida na compra de um veleiro apreendido
com três toneladas de cocaína foi presa em Birigui (SP).
Segundo a PF, na
casa de Thaina Hilario da Silva foram apreendidos um celular e documentos. A
defesa dela disse ao g1 que não iria se manifestar.
Apreensão
Carros de luxo
importados, joias, relógios caros, dinheiro em espécie, e documentos ligados ao
setor de apostas online foram apreendidos nesta operação.
Regularização de bets
O delegado da PF, Marcelo
Maceira, disse que algumas das casas de apostas investigadas no âmbito da
operação Narco Bets são regularizadas e obtiveram suas licenças com dinheiro
ilícito. Outras teriam sede fora do país.
“Algumas bets são
regularizadas. Nós temos a informação de que parte do valor necessário para
conseguir licença dessas bets tem origem ilícita. Outras bets têm sede no
exterior, e a gente tem que aprofundar a investigação para ter mais
informações”, afirmou Maceira.
Entre os presos na
operação estão o influenciador digital Bruno Alexssander Souza Silva, conhecido
como Buzeira da Roleta, e o empresário Rodrigo Morgado.
Influenciador
Bruno Alexssander
Souza Silva, conhecido nas redes sociais como Buzeira, foi preso por suspeita
de envolvimento no esquema de lavagem de dinheiro ligado ao tráfico
internacional de drogas. Na casa dele, em Igaratá, foram apreendidas armas de
diferentes calibres, e diversos bens de luxo.
O inquérito destaca
que 'Buzeira' é citado também na investigação sobre desvio de recursos do
Sport Club Corinthians Paulista, da Série
A do futebol brasileiro, onde foram apurados indícios de possível lavagem de
dinheiro, existindo informações de possuir ligações com a facção criminosa - Primeiro
Comando da Capital-PCC.
O influencer é sócio
da empresa Buzeira Digital que tem Rodrigo Morgado como contador. O levantamento
de dados bancários mostra que a Buzeira Digital recebeu R$ 19,7 milhões, transferidos
diretamente por ele.
O grupo usava
apostas online, rifas de carros e transações em criptomoedas para dar aparência
de legalidade aos ganhos ilícitos.
O delegado da PF
Marcelo Maceira disse que algumas das bets envolvidas utilizaram recursos
ilícitos para conseguir suas regularizações. Segundo fontes da investigação,
Buzeira teria atuado como figura de fachada para movimentações financeiras,
emprestando sua imagem e empresas para viabilizar transações suspeitas no setor
de apostas e rifas virtuais.
Contador
Segundo o site UO, os
autos da Operação Narco Bet indicam que a investigação mergulhou no esquema de
lavagem da organização criminosa e rastreou os passos de Rodrigo Morgado via
transações de grande valor.
O contador, segundo
a PF, 'participa de esquema de lavagem de capitais, concretizado por intermédio
de empresas de fachada, casas de apostas e holdings familiares'.
A investigação
mostra que a Secretaria de Finanças e Gestão do Município de Santos informou
que Morgado tem promovido a abertura de diversas empresas com sócios oriundos de outras unidades da Federação, na
maioria jovens residentes em comunidades de difícil localização e sem adequada
comprovação de endereço.
Essas empresas foram
formalizadas com sede e em endereço da empresa de coworking em que o contador
figura como único sócio, e possuem registros de atividades similares entre si, sendo verificados indícios de fraudes documentais concretizadas, ao que
parece, pela empresa de contabilidade desse investigado, e sob sua inteira
responsabilidade.
Na 'nuvem'
A análise de dados
recuperados na 'nuvem' do aparelho celular do contador - apreendido no bojo da
Operação Narco Vela - e da conta icloud r.pmorgado@icloud.com3 revelou que ele
atuou como contador das empresas Saito Construtora Ltda. e Caetano da Silva
Construtora Eireli, ambas envolvidas na aquisição do veleiro Lobo IV,
apreendido com mais de três toneladas de cocaína.
O inquérito da PF
registra 'a prática de fraudes em larga escala, o envolvimento (de Morgado) com
o tráfico internacional de entorpecentes, objeto de investigações, corrupção de
policiais e de servidores do Poder Judiciário, manipulação de provas e intimidação
de subordinados'.
Morgado já é
investigado em inquérito que apura tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, atua
como doleiro, bem como na falsificação de documentos, no
uso de documentos falsos, e na lavagem de capitais e ocultação de patrimônio próprio e de terceiros.
A quebra de sigilos
fiscal e bancário e diligências resultaram na 'obtenção de elementos
probatórios que, somados com as provas obtidas no Inquérito original,
sinalizaram a prática de tráfico internacional de entorpecentes, e a ligação
dos representados em atos necessários para o branqueamento do lucro apurado com
essa prática ilícita'.
Mulher é Sócia
Segundo UOL, em meio
às investigações, o Ministério Público Federal (MPF) descobriu que Morgado
utiliza a empresa Brxnet, de propriedade de 'Buzeira' para a 'prática de
lavagem de capitais'. A mulher do contador, Clara Ramos de Souza Morgado, é uma
das sócias da Brxnet.
"Ou seja, mais
uma indicação de forte vínculo entre os negócios desse influenciador digital e
o contador investigado (...)", aponta a PF.
O inquérito da
Operação Narco Bet indica, ainda, 'indícios veementes da participação de Ingrid
Ohara Silva Nogueira e Tácio Leonardo Costa Dominguez, vulgo 'T10', nas
práticas ilícitas em apuração voltadas à lavagem de capitais obtidos com a
prática de tráfico internacional de substâncias entorpecentes e possíveis
outros ilícitos.
Ingrid e 'T10' já
são investigados por lavagem de dinheiro, Ingrid figura como quarta maior
beneficiária de recursos de Morgado tendo recebido no período de um ano o total
de R$ 9,45 milhões distribuídos em vinte e três transações. Ela também realizou
transferências de criptoativos para conta vinculada a
Morgado via Exchange.
No dia 23 de outubro
de 2023 Ingrid enviou o valor equivalente à época a R$ 300 mil para carteira
digital identificada como pertencente ao contador. Na mesma data ingressaram R$
303.945,09 na conta de Morgado, quantia que foi restituída de forma pulverizada
para contas de Ingrid e de 'T10'.
Segundo apurado,
'T10' se apresenta como influenciador digital e atua no segmento de apostas
digitais. É companheiro de Ingrid Ohara e titular da empresa 'T10' Cursos e
Treinamentos Ltda que, conforme informação da Secretaria de Finanças de Santos,
figura como empresa aberta pela Quadri Contabilidade Ltda, constituída por
Morgado.
"Há sinais de
que 'T10' atua de forma coordenada com Ingrid Ohara e Morgado em transações
financeiras realizadas de forma fracionada para o fim de dissimulação da origem
dos valores", alega a PF.
Outros Envolvidos
De acordo com o UOL,
os investigadores identificaram também envolvimento de Davidson Praça Lopes,
Guilherme Brasil Barcellos e Fernando Silva Abreu Costa em ações relacionadas à
lavagem de capitais. Davidson Praça Lopes figura como responsável pela empresa
Ápice Desenvolvimento e Liderança Eireli, registrada no coworking de Rodrigo
Morgado.
Davidson Praça e a
Ápice Liderança realizaram transações com Morgado que alcançaram cifra
aproximada a R$ 2 milhões. Também fizeram transferência de R$ 80 mil para
empresa vinculada à aquisição do veleiro Lobo IV.
"Dos trabalhos
investigativos até o momento realizados foi verificado que, ao menos em tese,
por meio intermédio da empresa Ápice, Davidson integra rede de movimentações
financeiras estruturadas em torno de Rodrigo de Paula Morgado para o fim de
lavagem de capitais de origem ilícita", sustenta a PF.
Em outro trecho do
relatório da PF ao qual o Estadão teve acesso, são citados Guilherme Brasil
Barcelos, o 'Gebê', e Fernando Silva Abreu Costa, sócios da empresa FLG Negócios
Digitais Ltda.
Há registros de que
Gebê teria recebido transferências diretas de valores de Morgado. Foi
verificado, ainda, que Fernando Abreu é sócio da empresa FSA Negócios Digitais
Ltda. Entre junho de 2023 e março de 2024 essa empresa realizou transações que
alcançaram a cifra de R$13 milhões e recebeu R$636.899,64 de Morgado.
Fernando Abreu, por
seu lado, em transação única, recebeu R$ 180 mil do contador.
COAF
O Coaf - Conselho de
Controle de Atividades Financeiras, Unidade de Inteligência Financeira (UIF) do
Brasil, identificou “centenas” de pessoas físicas e jurídicas participando do
esquema. Entre as empresas apontadas como “núcleos de dissimulação de valores”
estão a Evipes Soluções em Pagamento On-Line Ltda, a Ngx Holding de
Participações Societárias Ltda, a Infinity Serviços Administrativos Ltda e a
Buzeira Digital Ltda. Estas companhias estariam “sob controle ou influência” de
Morgado.
Morgado é descrito
como um “verdadeiro ‘banco particular’ de outros investigados” e as operações
representariam uma “nítida fase de integração de ativos ilícitos na economia
formal”.
Segundo os
investigadores, “Em 04/01/2024, por exemplo, Morgado realizou transferência
milionária para a Integration Empreendimentos Ltda., referente à compra de
imóvel de Buzeira, valor que nunca transitou pela conta do influenciador. No
mesmo sentido, há registros de pagamento de R$ 400 mil pela compra de uma
lancha, de R$ 210 mil para a empresa Hi Quality Importação e Comércio, e de
transferências fracionadas que somam dezenas de milhões de reais provenientes
de remessas em criptomoedas, as margens do sistema financeiro oficial, enviadas
por Gustavo Afonso Ribeiro e Lacerda (Feio ou Bravo), vinculado à casa de
apostas BET7K”.
A investigação
revelou que a Buzeira Digital emitiu uma nota fiscal de R$ 50 milhões contra a
empresa estrangeira Superbet88 Internacional N.V. Morgado “orientava e
executava manobras para dissimular a origem e a titularidade dos valores”,
atuando como “sócio oculto” em diversas empresas.
“Os diálogos indicam
para a participação de Morgado na compra de empresas como a RR Participações e
Intermediações de Negócios S/A, adquirida por R$ 5 milhões com o objetivo de
obter licença de operação para as plataformas BRX.BET e RICO.BET, pertencentes
de fato a Buzeira. Também foi identificado o envolvimento de ambos na
constituição de novas empresas, como BRX Gaming, Bilibank, Vision Farma e Adega
Roleta, com estruturação societária possivelmente voltada à ocultação de bens”,
conclui o relatório.
Investigação começou em 2023
De acordo com a PF, a
investigação teve início em fevereiro de 2023, quando a Agência de Repressão às
Drogas dos EUA (Drug Enforcement Agency – DEA) comunicou a apreensão de 3
toneladas de cocaína dentro de um veleiro brasileiro em alto-mar.
A embarcação, de
nome Lobo IV, foi apreendida entre o arquipélago de Cabo Verde e as Ilhas
Canárias pela Marinha dos Estados Unidos.
O fato desencadeou
diversas investigações que culminaram com a Operação Narco Vela, em abril de
2025. Agora, a PF chegou aos envolvidos na compra do veleiro.
O que dizem as defesas de Buzeira e Morgado
As defesas do
influenciador Buzeira e do empresário Rodrigo Morgado se manifestaram nas redes
sociais por meio de nota.
Segundo o advogado
Jonas Reis, responsável pela representação jurídica de Buzeira, a defesa ainda
não teve acesso integral aos autos da Operação Narco Bet. Além disso, disse que é prematuro qualquer
julgamento ou ilação neste momento.
“Bruno é
trabalhador, possui residência fixa, fonte de renda lícita e atua há anos de
forma pública e transparente nas redes sociais, sendo reconhecido nacionalmente
por sua atividade profissional como criador de conteúdo digital”.
Defesa de Bruno
Alexssander Souza Silva, o influencer 'Buzeira'
Por fim, a defesa
afirmou que confia no pleno esclarecimento dos fatos e na Justiça brasileira, e
alegou que não há, até o presente momento, qualquer elemento concreto que
comprove envolvimento do influenciador em atividades ilícitas.
Já os representantes
de Rodrigo Morgado, disseram que o empresário "sempre atuou exclusivamente
como contador, exercendo sua atividade profissional de forma técnica, ética,
regular e dentro dos limites legais da profissão, prestando serviços contábeis
a diversos clientes." Veja nota completa:
Nota na íntegra
"A defesa de
Rodrigo Morgado vem a público declarar sua total inocência diante das acusações
que lhe foram atribuídas no âmbito da Operação NarcoBet e NarcoVela, conduzidas
pela Policia Federal.
Rodrigo sempre atuou
exclusivamente como contador, exercendo sua atividade profissional de forma
técnica, ética, regular e dentro dos limites legais da profissão, prestando
serviços contábeis a diversos clientes.
Toda a documentação
relativa à sua atuação empresarial está devidamente organizada e será
apresentada ao Juizo no momento oportuno.
As movimentações
financeiras relativas aos clientes, da mesma forma serão trazidas esclarecendo
ao feito a licitude das transações.
O simples ato de
converter criptomoedas em reais mediante pagamento de comissão não configura
crime.
A atividade P2P,
ainda que não submetida a regulação específica do Banco Central, não é ilícita,
desde que comunicada à Receita Federal, o que, segundo os documentos
fornecidos, foi feito regularmente pelas empresas dos seus clientes.
A defesa reitera que
Rodrigo não participou de qualquer atividade ilicita e que sua conduta sempre foi
pautada pelo respeito à lei.
Acreditamos
firmemente que, com a apuração completa dos fatos, momento em que será
garantida a mais ampla defesa pelo Juizo, sua inocência será reconhecida e a
verdade prevalecerá.
A defesa seguirá
lutando por sua liberdade e confia na Justiça para que essa situação seja
esclarecida o mais breve possivel."
A nossa missão é manter informado àqueles que nos acompanham, de todos os fatos, que de alguma forma, estejam relacionados com a Segurança Portuária em todo o seu contexto (Safety/Security). A matéria veiculada apresenta cunho jornalístico e informativo, inexistindo qualquer crítica política ou juízo de valor.
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