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terça-feira, 26 de setembro de 2017

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A ROTA MARÍTIMA DA COCAÍNA




 "Pescaria de drogas" no mar e corrupção em terra: as táticas do crime para levar narcóticos para a Europa

Os portos marítimos brasileiros se tornaram um ponto de passagem fundamental na rota do tráfico de cocaína entre os países andinos que a produzem e o mercado consumidor na Europa. Só no ano de 2016, a Receita Federal e a Polícia Federal, em operações conjuntas, encontraram e apreenderam 15 toneladas da droga em contêineres. A quantia é nove vezes maior do que o que foi apreendido nos principais aeroportos do país.
Narcotraficantes estão corrompendo trabalhadores portuários, recheando contêineres com drogas e tentando burlar sistema de raio-x.
Eles até usam pequenas embarcações e cordas para içar malas cheias de cocaína para dentro de navios cargueiros no mar – em uma espécie de “pescaria de drogas”.
Corrupção em terra

A tática mais comum dos narcotraficantes é colocar a droga em contêineres em meio a mercadorias regulares, que estão sendo exportadas por empresas idôneas, sem seu conhecimento, segundo o auditor fiscal Oswaldo Souza Dias Junior, da Divisão de Vigilância e Controle Aduaneiro (Divig) da Alfândega do Porto de Santos.
“(Os criminosos) cooptam trabalhadores que operam de alguma forma na cadeia logística”, disse o auditor fiscal.
Os guardas portuários que usavam a caminhonete na foto acima foram filmados recebendo pacotes de cocaína de traficantes em uma rua de Santos. Em seguida, eles entraram em um terminal portuário para esconder a droga em contêineres que já haviam sido inspecionados por máquinas de raio-x e estavam prontos para serem exportados. O Porto de Santos tem 16 aparelhos para escaneamento.
O flagrante aconteceu em 2015, e os guardas corruptos acabaram sendo presos. O Porto de Santos afirmou que todas as medidas disciplinares e administrativas foram tempestivamente adotadas.
"Fator humano": o ponto mais frágil

Uma prática comum dos narcotraficantes é subornar motoristas de caminhão que transportam contêineres até o porto, para que desviem de rota e se encontrem com os criminosos. O contêiner é então aberto com técnicas que não violam seu lacre e a droga é escondida em meio à carga.
Também já foram flagrados e presos estivadores com tabletes de cocaína escondidos embaixo da camisa, funcionários da manutenção e segurança com drogas.
Além disso, há o envolvimento de pessoas que têm acesso ao controle de origem e destino dos contêineres em empresas ligadas aos portos. Pois os traficantes precisam saber em quais contêineres podem colocar a droga.
“Nós acreditamos que o ponto mais frágil, mais vulnerável (da segurança dos portos), é o fator humano, é o ponto mais complicado”, afirmou Dias Júnior.
Outra prática comum é cooptar membros da tripulação dos navios. Os traficantes se aproximam das embarcações atracadas no porto ou ancoradas próximo da costa em pequenos barcos de pesca com motores potentes e amarram mochilas cheia de cocaína em cordas que jogadas pelos tripulantes do navio.
A droga é então içada para dentro do cargueiro e escondida em contêineres ou esconderijos na embarcação.
Crescimento nas apreensões

Em 2016, a Receita Federal encontrou e a Polícia Federal apreendeu mais de 15 toneladas de cocaína em contêineres a caminho ou dentro de portos brasileiros – a maior parte das ocorrências foi no Porto de Santos (SP), que é o maior da América Latina.
A quantidade de apreensões nacionais é 10 vezes maior que a que foi registrada em 2015, ano em que a Polícia Federal começou a discriminar em suas estatísticas apreensões em contêineres. Neste ano de 2017, foram apreendidas ao menos 9,6 toneladas até agora.
Segundo o procurador Márcio Christino, do Ministério Púbico de São Paulo, não é possível estimar exatamente quanta cocaína passa pelo Brasil em direção à Europa, já que a parte apreendida, segundo ele, é muito pequena em relação ao montante total.
Segundo relatório da Europol (agência de polícia europeia) a estimativa mais recente (2013) aponta que são consumidas entre 72 e 110 toneladas de cocaína no bloco europeu em um ano.
Além do Brasil, outros portos usados no tráfico da droga para a Europa ficam na Venezuela, no Equador e em também ilhas do Caribe.
Fim das mulas do tráfico?
Os portos ganharam essa importância para o narcotráfico porque é possível remeter ilegalmente em navios quantidades muito maiores de drogas para outros continentes do que em aviões.
Para se ter ideia, enquanto 15 toneladas de cocaína foram apreendidas em contêineres em 2016, nos principais aeroportos brasileiros a Polícia Federal apreendeu 1,9 tonelada da droga no mesmo período.
Segundo Christino, o narcotráfico marítimo tende a crescer muito mais que a modalidade na qual pessoas são recrutadas para agir como mulas – levando para a Europa pequenas quantidades de cocaína escondidas em bagagens ou no próprio corpo em voos internacionais.
Entre 2015 e 2016, o volume de cocaína apreendida nos aeroportos cresceu 20%. Nos portos, o aumento foi de mais de 900%. Mas isso não significa que as mulas vão acabar, pois as duas modalidades de narcotráfico são exploradas por grupos criminosos diferentes, segundo o procurador.
O assassinato que mudou tudo

Autoridades envolvidas na repressão ao narcotráfico dizem que o sistema de policiamento está ficando cada vez mais eficiente devido a melhorias tecnológicas e no setor de inteligência. Mas pode haver mais explicações.
O Brasil começou a ser retratado como importante entreposto do tráfico de cocaína para a Europa no início dos anos de 2010 por organismos internacionais como a ONU e a Europol.
Mas, segundo o procurador Christino, a quantidade de drogas traficadas pela rota marítima que passa pelo Brasil começou a aumentar dramaticamente a partir do assassinato de Jorge Rafaat, o criminoso que era acusado de controlar o tráfico e o contrabando na fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai.
“O Jorge Rafaat era conhecido como o rei da fronteira, era o concessionário de uma linha de tráfico concedida pelos traficantes bolivianos. Ele dominava essa região entre Brasil e Paraguai, mas ele não tinha a penetração no interior do Brasil”, disse o procurador.
Ao matar Rafaat, o PCC, que antes dominava apenas a parte brasileira da rota, passou a cuidar do transporte da cocaína desde a Bolívia até os portos brasileiros.
Segundo Christino, isso teria tornado a rota mais “eficiente” e direta.
“O tráfico via marítima tente a crescer porque esse novo canal que se estabeleceu entre a Bolívia, o Paraguai e o Brasil que não existia antes agora fornece uma rota segura para que a droga saia de sua origem e chegue ao seu destino”.
A rota da droga
Os maiores produtores mundiais de cocaína são a Colômbia, o Peru e a Bolívia, que juntos cultivavam cerca de 156 mil hectares de folha coca –  segundo dados de 2015 do UNODC, o escritório da ONU dedicado ao combate a crimes e narcotráfico.
De acordo com autoridades da Polícia Federal, da Receita Federal e do Ministério Público, a principal rota do tráfico da cocaína que passa pelo Brasil começa na Bolívia.
Ela então cruza o Paraguai e entra no Brasil pela fronteira terrestre – especialmente nas regiões das cidades de Ponta Porã (MS) e Foz do Iguaçu (PR).
De lá, segue escondida em veículos por rodovias brasileiras – especialmente no Mato Grosso do Sul e interior de São Paulo – até pontos de armazenagem ou portos importantes, como Santos (SP), Itajaí (SC) e Paranaguá (PR).
O papel das facções
Segundo Christino, o transporte clandestino da Bolívia até os portos brasileiros é feito por integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Uma segunda rota, controlada pela facção criminosa Família do Norte, traz cocaína do Peru pela fronteira do Amazonas até portos das regiões nordeste e também sudeste.
Se escapar ao controle das autoridades nos portos, a cocaína segue então em navios cargueiros até portos europeus. Os destinos principais são Antuérpia (Bélgica), Rotterdam (Holanda), La Havre (França), Algeciras (Espanha) e Gioia Tauro (Itália).
Uma vez em solo europeu, a droga é retirada dos contêineres e distribuída por organizações criminosas europeias, especialmente de origem sérvia e italiana.
Ela também pode chegar de navio a países do golfo da Guiné, como Nigéria, Camarões, Gana e Togo e depois seguir de avião em pequenas quantidades para a Europa.
Os custos com as perdas de carregamentos apreendidos pelas autoridades são divididos entre as organizações criminosas.
Segundo investigações da Polícia Federal, tanto o PCC como as quadrilhas internacionais operam organizadas em pequenas células, o que dificulta que sejam descobertas.
Assim, os membros do PCC não atuam no tráfico internacional de cocaína por fruto de uma determinação direta de sua cúpula. O transporte da droga é feito por diversas células de forma independente. Mas uma parte do lucro de cada unidade é remetida para a manutenção da organização criminosa.
Combate ao narcotráfico
O Brasil faz a repressão do tráfico de cocaína nessa rota nas fronteiras, nas rodovias, nas cidades onde há depósitos clandestinos e nos portos.
Quando a droga consegue chegar até o porto, a última barreira para tentar evitar que ela seja exportada é formada pela Polícia Federal e pela Receita Federal.
A Receita utiliza cães farejadores, câmeras de segurança e aparelhos de raio-x para checar os contêineres.
"Em Santos nós escaneamos 100% das cargas de importação e as cargas de exportação nos escaneamos aquelas que se destinam a portos europeus ou que serão submetidas a baldeação em portos europeus, mesmo que o destino final seja outros portos", afirmou Souza.
Além disso, duas lanchas blindadas são usadas para evitar que traficantes se aproximem dos cargueiros na região do porto.
Mas não é possível verificar todos os contêineres pois eles ficam poucos dias no porto e são necessárias horas para verificar manualmente um só contêiner.
Assim, as autoridades vivem um dilema permanente: precisam procurar por drogas, mas não podem atrasar muito as remessas internacionais, pois carga parada no porto significa custos adicionais.
A solução é atuar na área da inteligência e fazer uma análise de risco para verificar as cargas nas quais há maior probabilidade da presença de drogas.
Até o fim do ano as autoridades portuárias de Santos devem aderir a um sistema de inteligência da ONU para facilitar a troca de informações sobre crime entre os diversos portos do mundo.


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