Novos alvos têm ligação com investigados da “Operação
Carbono Oculto” e são suspeitos de lavagem de dinheiro e ocultação patrimonial
A Receita Federal do
Brasil (RFB) e órgãos parceiros deflagraram na quinta-feira, 25 de setembro, a
“Operação Spare”, desdobramento da “Operação Carbono Oculto”, realizada em 28
de agosto.
A ação mirou um dos
principais operadores de uma organização criminosa (ORCRIM) que atua há mais de
duas décadas no mercado de combustíveis no estado de São Paulo, além de pessoas
a ele associadas. Os investigados são suspeitos de utilizar postos,
empreendimentos imobiliários, motéis e lojas de franquia como instrumentos para
lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio.
O sofisticado
esquema revelado na “Operação Carbono Oculto” também era operado pelos alvos da
“Spare”. Recursos de origem ilícita eram inseridos no setor formal por meio de
empresas operacionais. Esse movimento se dava em espécie e por maquininhas via
fintechs, e posteriormente os recursos lavados eram reinvestidos em negócios,
imóveis e outros ativos, por meio de Sociedades em Conta de Participação (SCP).
A operação tinha
como finalidade, o cumprimento de 25 mandados de busca e apreensão nas cidades
de São Paulo (19), Santo André (2), Barueri, Bertioga, Campos do Jordão e
Osasco. Participam da operação 64 servidores da RFB e 28 do Ministério Público
de São Paulo (MPSP), por meio do Gaeco - Grupo de Atuação Especial de Combate
às Organizações Criminosas, além de representantes da Secretaria da Fazenda e
Planejamento do Estado de São Paulo (Sefaz/SP) e cerca de 100 policiais
militares.
Entenda a infiltração no mercado formal
O principal alvo da
operação está ligado a uma extensa rede de postos de combustíveis usada para
lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. A estrutura foi identificada a partir
da concentração de empresas sob responsabilidade de um único prestador de
serviço, que formalmente controlava cerca de 400 postos - sendo 200 vinculados
diretamente ao alvo e seus associados.
A Receita Federal
identificou ao menos 267 postos ainda ativos, que movimentaram mais de R$ 4,5
bilhões entre 2020 e 2024, mas recolheram apenas R$ 4,5 milhões em tributos
federais - o equivalente a 0,1% do total movimentado, percentual muito abaixo
da média do setor. Também foram identificadas administradoras de postos que
movimentaram R$ 540 milhões no mesmo período.
A atuação do grupo,
no entanto, não se restringia ao setor de combustíveis. Por meio de pessoas
relacionadas, o principal alvo também operava lojas de franquias, motéis e
empreendimentos na construção civil.
Durante as
fiscalizações, foram identificados 21 CNPJs ligados a 98 estabelecimentos
relacionados a uma mesma franquia, todos em nome de alvos da operação. Embora
operacionais, essas empresas apresentavam indícios de lavagem de dinheiro.
Entre 2020 e 2024, movimentaram cerca de R$ 1 bilhão, mas emitiram apenas R$
550 milhões em notas fiscais. No mesmo período, recolheram R$ 25 milhões em
tributos federais (2,5% da sua movimentação financeira no mesmo período) e
distribuíram R$ 88 milhões em lucros e dividendos.
Mais de 60 motéis
também foram identificados, a maioria em nome de “laranjas”, com movimentação
de R$ 450 milhões entre 2020 e 2024. Esses estabelecimentos contribuíram para o
aumento patrimonial dos sócios, com distribuição de R$ 45 milhões em lucros e
dividendos. Um dos motéis chegou a distribuir 64% da receita bruta declarada.
Restaurantes localizados nos motéis, com CNPJs próprios, também integravam o
esquema - um deles distribuiu R$ 1,7 milhão em lucros após registrar receita de
R$ 6,8 milhões entre 2022 e 2023.
Operações
imobiliárias realizadas pelos CNPJs de motéis vinculados a integrantes da
organização criminosa também chamaram atenção. Um dos CNPJs adquiriu um imóvel
de R$ 1,8 milhão em 2021; outro comprou um imóvel de R$ 5 milhões em 2023.
As investigações
revelaram ainda o uso de SCPs para construção de empreendimentos imobiliários,
especialmente prédios residenciais em Santos, durante a década de 2010. Como os
sócios ocultos dessas sociedades são mantidos em sigilo, não é possível
determinar quantas ainda estão em poder dos alvos. Com base em uma sócia
ostensiva comum, estima-se que ao menos 14 empreendimentos movimentaram R$ 260
milhões entre 2020 e 2024.
Aquisição de bens de luxo
Com os recursos
obtidos por meio do esquema, os alvos adquiriram imóveis e bens de alto valor,
diretamente ou por meio de empresas patrimoniais e de fachada. Entre os bens
estão um iate de 23 metros, inicialmente comprado por um dos motéis e depois
transferido a uma empresa de fachada, que também adquiriu um helicóptero; outro
helicóptero (modelo Augusta A109E) foi comprado em nome de um dos investigados;
um Lamborghini Urus adquirido por empresa patrimonial; além de terrenos onde
estão localizados diversos motéis, avaliados em mais de R$ 20 milhões.
Estima-se que os bens identificados representem apenas 10% do patrimônio real
dos envolvidos.
A Receita Federal
também detectou um padrão de retificação de declarações de Imposto de Renda:
declarações antigas e recentes eram retificadas no mesmo dia, com inclusão de
altos valores na ficha de bens e direitos da declaração mais antiga - próxima à
decadência - sem a correspondente inclusão de rendimentos e pagamento de
imposto, o que configura mais uma tentativa espúria de indicar origem para
patrimônio adquirido com recursos sem origem e não tributados. Usando desse
artifício, membros da família do principal alvo aumentaram seu patrimônio
informado de forma irregular em cerca de R$ 120 milhões (valores atualizados).
Conexões com outras operações
Durante as
investigações, foram identificadas conexões entre os alvos da “Operação Spare”
e indivíduos envolvidos em outras ações de combate ao crime organizado,
incluindo a própria “Operação Carbono Oculto” e a “https://www.segurancaportuariaemfoco.com.br/2025/09/operacao-desmantela-organizacao.html”.
Entre os indícios estão transações comerciais e imobiliárias entre os
investigados, uso compartilhado de helicópteros e reservas conjuntas de passagens
para viagens internacionais.
A Receita Federal
também deflagrou outras ações com foco em combustíveis. Por meio de sua área
aduaneira, realizou no dia 19 de setembro, a “Operação Cadeia de Carbono”, que
resultou na apreensão de cargas de dois navios no Porto do Rio de Janeiro. As
mercadorias, compostas por petróleo e seus derivados, foram avaliadas em
aproximadamente R$ 240 milhões e são suspeitas de terem sido importadas por
empresas que não comprovaram a origem dos recursos utilizados para aquisição de
bens de valor tão elevado.
No dia 24 de setembro, a RFB publicou uma portaria que intensifica o combate a fraudes em
operações de importação.
Nome da operação
O nome “Spare” foi
retirado do boliche. Um spare ocorre quando o jogador derruba todos os pinos
após os dois arremessos de uma mesma rodada. No contexto do combate à ORCRIM, a
“Operação Carbono Oculto” representaria o primeiro arremesso, e esta operação,
o segundo, concluindo o objetivo inicial.
Delegacia contra
crime organizado
O ministro da
Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que Receita Federal vai criar uma delegacia
contra crime organizado.
“Já é a quarta
operação que a Receita faz no âmbito dessa grande estruturação desse
departamento. Aliás, nós temos uma decisão de transformar numa delegacia da
Receita Federal, que vai ter, portanto, um pessoal dedicado ao aprofundamento
de investigações dessa natureza. Uma delegacia aqui, no âmbito da Receita
Federal”, destacou Haddad.
“Então, essa criação
da delegacia, no âmbito da receita, vai ser muito útil para que isso seja
estruturado, independentemente de governo, seja um legado importante para o
futuro da Fazenda”, acrescentou.
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