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quarta-feira, 26 de maio de 2021

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BRASIL QUER EXTRADIÇÃO DE JORDANIANO PRESO NA EUROPA

 

Ele é apontado como elo do PCC com máfias da Itália e do leste europeu

O jordaniano Waleed Issa Khamayis, de 59 anos, apontado por autoridades brasileiras e europeias como uma peça-chave no Brasil para a articulação entre o PCC (Primeiro Comando da Capital) e grupos mafiosos da Itália e do leste europeu, está preso desde 22 de julho de 2020 na Turquia. O governo brasileiro pediu sua extradição. Se a solicitação for aceita, o jordaniano pode revelar detalhes valiosos sobre a atuação de organizações criminosas de todo o mundo em território nacional.

Desde 5 de julho de 2017, ele tem prisão decretada no Brasil por tráfico internacional de drogas e por organização criminosa. Apesar de o pedido de extradição ter sido feito oficialmente, há um entrave: Não existe acordo de extradição entre Turquia e Brasil. O governo brasileiro estuda possibilidades jurídicas e diplomáticas específicas para tentar trazer o jordaniano ao país. É aqui, no Rio Grande do Sul, por exemplo, que encontra-se a família dele.

Informações da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), obtidas com exclusividade pelo Núcleo de Jornalismo Investigativo da RecordTV, mostram que o Khamayis não é só o elo, mas também personifica a presença de máfias estrangeiras de origens difusas no Brasil. “Para que se mensure a magnitude do mercado do qual participava o jordaniano, ressalta-se que, apenas entre 2015 e 2017, Waleed foi responsável pelo ingresso de aproximadamente 8 toneladas de cocaína na Europa”, aponta a análise da agência.

De acordo com investigações brasileiras e italianas, ele coordenou envios de cocaína para a máfia italiana ‘Ndrangheta e ao clã Saric, de Montenegro. Sua atuação no Brasil, de acordo com a PF (Polícia Federal), porém, é mais antiga: Tem pelo menos duas décadas.

Da Itália ao Brasil

A ficha criminal de Waleed Khamayis teve início em 1987, em Messina, no sul da Itália, quando teve o nome envolvido a um atentado no qual morreram dois policiais. Dois anos depois, tentou negociar, sem sucesso, armamento antitanque para mafiosos italianos. Com olhos da polícia atentos aos seus passos, decidiu viajar para o Brasil em 1990.

Desde 1991, o jordaniano entrou no radar da polícia brasileira sob a suspeita de agir no tráfico internacional de cocaína desde o Brasil até a Europa. Em janeiro de 1992, foi identificado que ele organizou uma remessa de 325 quilos de cocaína para a Itália. Em julho daquele mesmo ano, foi detido ao ser flagrado tentando exportar, em Fortaleza (CE), 592 quilos da droga para a Itália.

A ação de exportar cocaína em navios, que hoje é corriqueira, à época foi considerada inovadora e sofisticada. Em 1996, foi agraciado com o regime semiaberto. Ele devia voltar para a prisão toda noite, mas decidiu fugir para São Paulo. Na capital paulista, foi localizado e voltou à prisão, desta vez, no extinto complexo do Carandiru, na zona norte da capital. Pouco depois, conseguiu fugir novamente.

Em 2004, voltou a ser preso, desta vez, no Rio Grande do Sul, sob a suspeita de praticar crimes de lavagem de dinheiro junto a outro jordaniano, identificado como Khmaue Ayman Rateb Issa Khmayis. No entanto, os processos relativos a essas prisões foram extintos em 2008 e ele foi liberado.

Apesar disso, ele continuou no radar das autoridades brasileiras. Em 2017, ele foi um dos alvos da Operação Brabo da PF, sendo condenado, à revelia, por tráfico internacional de drogas e organização criminosa. Ele ficou foragido desde então.

Passaporte verdadeiro, identidade falsa

Uma investigação da polícia da Macedônia, com auxílio da Interpol, que foi revelada pelo projeto de jornalismo IrpiMedia, da Itália, e pelo IRL (Investigative Reporting Lab Macedonia), identificou que o Ministério do Interior da Macedônia abrigou um esquema de fabricação de passaportes falsos que beneficiou pelo menos 215 criminosos. Entre eles, o jordaniano Khmayis.

A tática não é nova. Era a mesma feita, por exemplo, por Charles Sobhraj, um francês com ascendência indiana e vietnamita que drogava, roubava e matava jovens que visitavam a Tailândia onde morava. Depois de cometer os crimes, ele pegava os passaportes falsos das vítimas, trocava as fotos e viajava pelo mundo se passando pela pessoa que matou. A história baseou a série “O Paraíso e a Serpente”, disponível na Netflix.

No caso da Macedônia, não há registros de mortes. No entanto, pessoas pobres do país eram usadas para a tática. Passaportes falsos eram feitos com dados dos macedônios, mas as fotos coladas eram de mafiosos europeus. O que poderia ajudar Khmayis a escapar de autoridades mundo afora, na verdade, foi o que o levou para a prisão.

Sabendo que a Turquia não realiza prisões com base na difusão vermelha da Interpol, o jordaniano decidiu ir para o país. Lá, acabou preso por uso de documento falso. Antes de ser preso e visitar a Turquia, há registro de que Khamayis morava, com uso do passaporte macedônio, em um resort de luxo nas Ilhas Maurício. Era lá, inclusive, que ele recebia uma namorada de nacionalidade de Kosovo.

Máfias balcânicas se intensificam na América do Sul, diz Abin

A Abin tem acionado suas superintendências, a área operacional, parceiros de serviços estrangeiros e do Sisbin (Sistema Brasileiro de Inteligência), com o objetivo de trocar informações que possam auxiliar a identificação da rede criminosa de Khamayis. Por meio de relatórios analíticos semelhantes, a agência brasileira identificou que a atuação de grupos criminosos da região dos Bálcãs e do Leste Europeu intensificaram suas ações na América do Sul.

As organizações balcânicas têm como modus operandi a infiltração em setores da economia, o que lhes garante recursos para lavagem de dinheiro, cooptação  e pagamento de propina a autoridades e, por fim, criação de alianças com criminosos de outros países para viabilizar a operação em rotas transnacionais de drogas e de armas.

A partir da década de 2000, as máfias sérvias assumiram o protagonismo da chamada “Rota dos Bálcãs”, como é conhecido um dos itinerários do tráfico de cocaína da América do Sul para a Europa, de acordo com a Abin, se sobrepondo às máfias italianas, associadas a cartéis da Colômbia. Nesse período, começou a ser identificada a presença dessas organizações em países sul-americanos.

A atuação principal se deu na Argentina. Mas além do país vizinho, foram identificados núcleos no Brasil, Bolívia, Colômbia, Peru e Uruguai. Foram identificados, desde o início do século, apreensões, prisões e crimes violentos vinculados nesses países com cidadãos de origem balcânica.

Recentemente, um albanês foi assassinado em um restaurante na região dos Jardins, centro de São Paulo. O Núcleo de Jornalismo Investigativo da Record TV revelou que há suspeita de que ele tenha envolvimento com a máfia do seu país de origem.

Rotas balcânicas na América do Sul

Para importar cocaína da América do Sul, as máfias sérvias utilizaram, entre 2004 e 2010, duas rotas principais: uma a partir do Uruguai e Argentina, chegando primeiro na África do Sul e, depois, no norte da Itália e em Montenegro; e a outra a partir da Colômbia, passando pela África Central e Turquia antes de atracar em Montenegro.

Investigações internacionais mostram que, desde o início da década de 2011, o grupo de origem sérvia identificado como Clã Saric mantinha estruturas físicas de atuação em Montevideo (Uruguai), Ciudad del Este (Paraguai), Santa Cruz de la Sierra (Paraguai), além de lugares não definidos no Brasil.

Aqui, está identificado que o Clã Saric mantém contato com membros do “Grupo América”, que é uma organização criminosa originada nos EUA na década de 1980 e que opera com agentes financeiros de esquemas de narcotráfico e lavagem de dinheiro.

Fonte: R7


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