Ao descer a escada de prático para embarcar na lancha da Praticagem, com o mar balançando forte na barra, por pouco Naldo não caiu na água
Até meados da década
de 1990, o setor de navegação era composto por várias empresas nacionais —
entre elas Lloyd Brasileiro, Netumar, Norsul e Aliança — cujos navios atracavam
regularmente no Porto de Santos. Com essa presença constante, seus tripulantes
conviviam frequentemente com os guardas portuários, criando em muitos casos,
laços de amizade.
Numa tarde de sábado
daquela década, os guardas portuários Naldo “Tang” e Lenin “Porca-Russa”
estavam de serviço no portão do armazém 35, cumprindo o turno das 12h às 18h. Antigamente,
a maioria dos guardas portuários tinha apelido agregado ao nome — e eles
surgiam das mais variadas formas: características físicas, hábitos ou episódios
marcantes dentro da empresa.
Por volta das 16h30,
apareceu na entrada do posto o Raimundo, cozinheiro de um dos navios atracados
bem em frente ao local. Como Naldo já o conhecia de outras viagens, não perdeu
a chance e pediu que ele arrumasse uma peça de carne para fazer um churrasco
com a família no domingo.
Raimundo atendeu
prontamente e o convidou a subir a bordo para pegar a carne. Como estava tudo
tranquilo — a operação do navio já havia sido encerrada — Naldo pediu para o
parceiro “segurar as pontas”, pegou sua mochila e acompanhou o cozinheiro até a
embarcação.
A bordo, Raimundo separou a carne solicitada e ainda
ofereceu um lanche. Depois de horas trabalhando sob o sol, Naldo não recusou,
aproveitando também para colocar a conversa em dia.
Passado algum tempo,
ele agradeceu a gentileza e se dirigiu ao convés para retornar ao posto. Foi
então que levou um grande susto: o navio estava na barra de Santos.
Ao subir a bordo,
ele não se deu conta de que a embarcação estava prestes a desatracar — e,
enquanto conversava com o cozinheiro, o navio simplesmente deixou o porto.
O desespero bateu em
Naldo. Afinal, abandono de posto significava demissão certa. Raimundo tentou
acalmá-lo e o levou até a sala de comando para falar com o comandante. Lá,
tiveram uma grata surpresa: o prático — profissional responsável por orientar
entrada e saída dos navios — ainda estava a bordo. Após ouvir o relato do que
tinha acontecido, ele se prontificou imediatamente a dar uma carona de volta à
cidade.
Enquanto isso, no
Posto Fiscal, Lenin viu o navio deixando o porto sem que o parceiro tivesse
retornado. Sem saber o que fazer, e com a chegada da equipe que faria a
rendição, decidiu proteger o colega: disse que Naldo tivera um problema
familiar e precisara sair uns minutos antes.
Ao descer a escada
de prático para embarcar na lancha da Praticagem, Naldo levou outro susto: com
o balanço forte na barra, quase caiu na água.
Já salvo a bordo da lancha, como estava com sua
mochila, trocou o uniforme por uma roupa paisana, evitando chamar atenção
ao desembarcar na Ponte dos Práticos, na Ponta da Praia. De lá, pegou uma
condução até sua residência.
No dia seguinte,
como a sua bicicleta havia ficado no posto fiscal, foi à pé ao trabalho. Ao
reencontrar Lenin, agradeceu pelo apoio para que ninguém soubesse do ocorrido.
Os dois ainda riram juntos do famoso “Passeio na Barra”.
Moral da história: Onde se ganha o pão não se pede a carne, senão você pode ficar a ver
navios.
* Essa história é baseada em fatos reais. Dizem que ela é 99% verdadeira, só não é 100% porque quem conta um conto aumenta um ponto. Os nomes dos envolvidos são fictícios.
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