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quinta-feira, 10 de junho de 2021

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POLÍCIA FEDERAL PRENDE NARCOTRAFICANTES ITALIANOS DA MÁFIA 'NDRANGHETA

 

Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

Morabito e Vincenzo são integrantes de clãs diferentes da ‘Ndrangheta e negociavam o envio de cocaína para a Europa com o PCC

No dia 24 de maio, por volta das 14h30, a Polícia Federal (PF) deteve, em um quarto no 3º andar do flat Ecco Summer, na praia de Tambaú, em João Pessoa, no litoral da Paraíba, Rocco Morabito, 54, um dos narcotraficantes mais procurados do mundo, conhecido como "o Rei da Cocaína de Milão" e apontado pelas polícias da Europa e da América do Sul como um dos principais líderes da máfia italiana 'Ndrangheta.

O hotel é famoso e fica numa das praias mais badaladas da capital da Paraíba. Morabito estava hospedado no flat desde o dia 25 de abril.

Com ele, havia outros dois estrangeiros. Um deles era Vincenzo Pasquino, 30, um fugitivo originário de Turim e incluído na lista de fugitivos perigosos.

Segundo dito por um funcionário do flat ao jornalista Josmar Jozino, do site UOL, Morabito não resistiu à prisão, e Pasquino tentou fugir pulando pela varanda, mas foi dominado. Um terceiro homem, baixo, forte, branco, com cabelos lisos e olhos castanhos, escapou. A PF não confirmou essa informação.

De acordo com o funcionário do flat, no quarto com os italianos também estava um corretor de imóveis, identificado como Anselmo. Foi ele quem alugou os quartos para os mafiosos. Morabito morava sozinho no 3º andar e, Pasquino e o terceiro se hospedaram juntos no 4º andar. O corretor de imóveis passou mal quando os agentes federais chegaram. Ele não teria conhecimento de que os italianos eram criminosos procurados. Ele prestou depoimento à PF e depois foi liberado.

Investigação

A prisão deles pela PF foi efetivada em cumprimento a mandado de prisão de Morabito, expedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em uma operação conjunta internacional, que envolveu a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), o Grupo de Operações Especiais (ROS) da Arma dos Carabineiros da Itália, da Procuradoria Antimáfia da Itália, com a colaboração da Administração de Fiscalização de Drogas (DEA), do FBI e do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

Segundo os investigadores, as apurações foram abastecidas pelo compartilhamento de informações de um projeto da Interpol denominado Projeto I-Can (Interpol Cooperation against 'Ndrangheta) que envolve 11 Países, junto com o departamento de Segurança Pública da Itália, para investigar a 'Ndrangheta'.

Um mês antes da prisão, a INTERPOL coordenou o compartilhamento de informações e a ligação entre as autoridades participantes e os Escritórios Centrais Nacionais da INTERPOL na Itália e no Brasil. As informações de inteligência apontavam onde Morabito poderia estar.

Um dia antes, uma equipe de policiais italianos do Escritório Central da INTERPOL em Roma e dos Carabinieri, deslocou-se ao Brasil ante a perspectiva de que a prisão fosse realizada. 

A ministra do Interior da Itália, Luciana Lamorgese, disse: "A prisão de Rocco Morabito é um resultado extraordinário que demonstra a capacidade do judiciário e das agências de aplicação da lei de combater eficazmente o crime organizado e suas ramificações internacionais, graças à frutífera e intensa colaboração policial desenvolvida no âmbito do I- Projeto CAN, promovido e financiado pelo Ministério do Interior e liderado pela INTERPOL sob o Secretário-Geral Jürgen Stock para intensificar o esforço conjunto na luta contra a 'Ndrangheta e todos os seus interesses transnacionais ilegais”.

“A prisão de um dos fugitivos mais procurados da Itália é um testemunho do trabalho árduo e da dedicação do Ministério do Interior italiano, da Arma dei Carabinieri e da Direção Central da Polícia Criminal sob a liderança do prefeito Vittorio Rizzi”, disse o secretário-geral Jürgen Stock.

“Meus parabéns à Polícia Federal brasileira por seu trabalho vital e tenho certeza de que veremos mais prisões por meio do projeto I-CAN nos próximos meses”, acrescentou o Secretário-Geral Stock.

Quem é Morabito

Nascido em 1966, o italiano é acusado de associação mafiosa, tráfico de drogas e outros crimes graves. Ele é considerado o segundo criminoso mais procurado da Itália e tido pela polícia italiana como um dos mafiosos mais violentos do país desde o final dos anos 1980.

Integrante da 'Ndrangheta, considerada uma das maiores e mais poderosas organizações criminosas do mundo, ele é conhecido mundialmente como "o Rei da Cocaína". Procurado desde 1994 estava incluído na lista do Ministério do Interior dos 10 fugitivos mais perigosos da Itália.

Ele é acusado de comandar a logística da exportação de cocaína de São Paulo para Milão, no norte da Itália.

No Brasil, ele comandava as negociações de cocaína para a 'Ndrangheta junto ao PCC (Primeiro Comando da Capital) com apoio do jordaniano Waleed Issa Khamayis, que está preso na Turquia.

A polícia, inclusive, tem gravações de telefonemas em que ele negociou a compra de quase uma tonelada de cocaína da América do Sul, numa transação de cerca de 8 milhões de euros.   

No período em que esteve foragido, o criminoso passou alguns anos no Brasil, onde conseguiu um passaporte falsificado, e depois seguiu para o Uruguai.   

Condenado

Depois de 23 anos foragido da Justiça, o mafioso foi detido em setembro de 2017 no Uruguai. Em junho de 2019, porém, ele fugiu da prisão com dois brasileiros e um argentino. À época, ele estava prestes a ser extraditado do Uruguai para a Itália.


Morabito tinha quatro condenações na Itália, sendo duas de 22 anos, uma de 30 anos e outra de 29 anos. Segundo a documentação da Interpol, as penas foram unificadas em 30 anos. Contra Morabito havia um mandado de prisão expedido em 13 de agosto de 2008 e outro em 8 de julho de 2013. As condenações ocorreram pelas Cortes de Apelação da Calábria, em 10 de junho de 2005; Milão, em 5 de julho de 2001; Palermo, em 11 de março de 2000; e Milão, em 30 de abril de 1999.

Atividade no Brasil

As investigações apontam que antes de chegar a João Pessoa, ele passou por São Paulo (SP), Campos do Jordão (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Santa Catarina (SC).

Segundo a PF, há registros da atuação de Rocco Morabito com a organização do tráfico de drogas entre Brasil e Europa desde a década de 1990, conforme investigação à época realizada no âmbito da “Operação King”.

O Núcleo de Jornalismo Investigativo da Record TV apurou com autoridades estaduais de São Paulo e federais que, antes de ser preso, Morabito havia marcado uma reunião com integrantes do PCC, sem data certa, em Campos do Jordão (SP). Lá, um dos criminosos que estaria presente seria Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, apontado pela Promotoria paulista como o sucessor de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, à frente do PCC.

Morabito e comparsas montaram um escritório no Itaim Bibi, zona sul paulistana. Faziam parte do grupo o sobrinho dele, Francesco Sculli, e o jordaniano Waleed Issa Khmayis, que já passou pela Casa de Detenção, no Carandiru, e atualmente está preso na Turquia. O bando tentou enviar 600 kg de cocaína para a Europa pelo Porto de Fortaleza (CE), em julho de 1992.

Prisão e fuga no Uruguai

Durante pelo menos 15 anos, o mafioso viveu na cidade litorânea de Punta del Este, entre 2002 e 2017, utilizando a identidade de "Francisco Antonio Capeletto Souza", se passando por um empresário brasileiro que vivia da compra e venda de soja.   

No entanto, segundo as autoridades uruguaias, no início de 2017, ele foi matricular sua filha em um colégio e cometeu um erro ao preencher o formulário com seu sobrenome italiano. Com isso, a polícia descobriu seu paradeiro.  No Uruguai, ele foi processado por falsificação de documentos, após entrar no país em 2003 com identidade falsa.


Em setembro do mesmo ano, o criminoso foi detido em um hotel em Montevidéu. Ele chegou a ficar preso por dois anos no Presídio Central da cidade, onde aguardava uma decisão sobre o pedido de extradição feito pelo governo italiano, mas fugiu em 23 de junho de 2019 com mais três comparsas, depois de pagar mais de $ 50 mil pesos aos funcionários da prisão.

Eles escaparam pelo telhado da prisão à meia-noite, por um buraco. A polícia conseguiu recapturar os três indivíduos que fugiram com Morabito alguns dias depois, mas não conseguiu encontrar o ex-chefe da máfia italiana.

Vincenzo Pasquino

Preso junto com Morabito, Vincenzo Pasquino, um dos 30 foragidos mais procurados pela polícia italiana, tinha contra ele um mandado de prisão expedido em 7 de outubro de 2019 pela Corte de Turim, sua cidade natal. A última atualização da inclusão do nome dele na difusão vermelha da Interpol foi feita no dia 21 de maio.

Ele estava ilegal no país. Consta no sistema de controle migratório da PF que a sua entrada no país em 10 de janeiro de 2018 e valia por 90 dias.

Em 8 de julho de 2019, a PF prendeu em um prédio na Praia Grande (SP), Nicola Assisi e o filho dele, Patrick Assisi, ambos também da 'Ndrangheta. Agentes federais disseram que apreenderam na cobertura dos Assisi um passaporte em nome de Vincenzo Pasquino.

Ligação com o PCC

Segundo a PF, os Assisi, Rocco Morabito e Pasquino tinham envolvimento com o narcotraficante brasileiro André Oliveira Macedo, o André do Rap, ligado ao PCC (PrimeiroComando da Capital) e foragido da Justiça, e com outros criminosos da facção.

As autoridades italianas suspeitam que o encontro entre Rocco e Vincenzo em João Pessoa, que são integrantes de clãs diferentes da ‘Ndrangheta, estava relacionada a negócios envolvendo o tráfico internacional de drogas da máfia calabresa.

“Vincenzo Pasquino é um traficante internacional. Alvo de um procedimento penal da direção setorial antimáfia de Torino, porque pertence ao clã da ‘Ndrangheta chefiado por Nicola e Patrick Assisi. Apesar de não ter condenação definitiva, há uma investigação contra ele em Torino”, afirmou o procurador italiano Bombardieri.


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