A substituição no comando da GPort, setor estratégico
responsável por garantir a integridade da zona primária, despertou
questionamentos
O Porto do Rio de
Janeiro, um dos pilares logísticos e econômicos do Brasil, está no centro de
uma grave polêmica que levantam suspeitas de corrupção, contrabando e
fragilidade institucional. Documentos oficiais e nomeações recentes acenderam o
alerta para possíveis brechas na fiscalização de cargas e no controle de
acessos de áreas sensíveis que movimentam bilhões de reais todos os anos.
A substituição no
comando da Guarda Portuária (GPort), setor estratégico responsável por garantir
a integridade da zona primária, despertou questionamentos sobre critérios
técnicos, reputação dos escolhidos e riscos de abertura de espaço para práticas
ilícitas. O cenário, que mistura ingerência política e indícios de favorecimento,
coloca sob pressão a credibilidade da PortosRio e a própria imagem do Estado brasileiro
no comércio exterior.
Nomeação que levanta dúvidas
O Porto do Rio de
Janeiro, uma das principais portas de entrada e saída de mercadorias do país,
vive um momento delicado. Em 11 de agosto de 2025, a Superintendência da Guarda
Portuária passou a ser comandada por Jorge da Silva Dantas.
A mudança foi
oficializada por portaria assinada pelo diretor presidente da PortosRio, Flavio
Vieira da Silva, poucos dias após reunião da diretoria executiva. O ato, que em
tese teria caráter administrativo, ganhou peso político pela relevância estratégica
do cargo. A Guarda Portuária é responsável por controlar acessos, fiscalizar
cargas e garantir a integridade da zona primária. Trata-se, portanto, de um
núcleo central da estrutura de segurança logística e tributária do país.
O que chama a
atenção é a velocidade com que a alteração foi conduzida, sem divulgação prévia
de critérios técnicos ou consulta pública a respeito da capacidade profissional
do novo superintendente. Em ambientes portuários, qualquer fragilidade de
comando pode significar perdas milionárias para o Estado e para empresas
privadas que dependem da segurança institucional para operar.
Passado exposto em rede nacional
O novo
superintendente carrega um histórico polêmico. Reportagens exibidas em telejornais
de grande alcance, como o Fantástico, mostraram vídeos em que Dantas, à época
vereador em Japeri, aparecia recebendo dinheiro de forma suspeita. A repercussão
foi devastadora para sua carreira política, inviabilizando sua reeleição.
Embora não haja condenação transitada em julgado, a simples lembrança de sua
exposição em rede nacional levanta questionamentos sobre a adequação de seu
nome a um posto tão sensível.
A presunção de
inocência deve ser respeitada, mas a exigência legal de integridade e
experiência técnica, previstas na Lei das Estatais e na Lei dos Portos, impõe à
PortosRio o dever de justificar a escolha de forma transparente. Além disso,
não se trata apenas de reputação pessoal, mas de confiança institucional. A
Guarda Portuária é responsável pela proteção de áreas que concentram
contêineres de alto valor, insumos industriais estratégicos e até cargas de
defesa nacional.
Colocar em risco
essa engrenagem pode significar brechas irreparáveis para a economia e para a
segurança pública. Risco institucional e fragilidade da fronteira.
Denúncias de
facilitação de propina e de acesso irregular de caminhões ao Porto circulam em
dossiês internos, apontando para articulações silenciosas que podem estar
fragilizando os mecanismos de controle.
Quando a segurança
portuária é colocada em xeque, a porta se abre não apenas para a corrupção, mas
também para práticas criminosas como contrabando, evasão fiscal e tráfico de
ilícitos.
Esse risco não é
novidade no Brasil. Casos de corrupção já foram identificados em portos
estratégicos, como Santos e Itajaí, onde investigações apontaram conluios entre
agentes públicos e empresas privadas para liberar cargas sem fiscalização
adequada. A diferença é que, no Porto do Rio, a movimentação recente de cargos estratégicos
sugere que a fragilidade pode estar se institucionalizando, criando um ambiente
fértil para negociações obscuras.
O Porto do Rio
movimenta milhares de contêineres diariamente, com destaque para petróleo,
siderurgia e produtos de alto valor agregado. Qualquer falha nos controles
alfandegários impacta diretamente a arrecadação tributária e gera efeitos na
competitividade do comércio exterior. A imagem do país perante parceiros
internacionais também sofre, uma vez que portos considerados vulneráveis passam
a ser monitorado mais de perto, o que atrasa operações e encarece exportações.
Em última instância, a sociedade brasileira paga a conta por cada propina
aceita e cada fiscalização burlada.
Olhar dos órgãos de controle e repercussão internacional
O cenário vivido no
Porto do Rio não pode ser visto como uma questão interna e restrita à administração
portuária. A Controladoria-Geral da União, o Tribunal de Contas da União e o
Ministério Público Federal têm competência legal para auditar processos de
nomeação e contratos, sobretudo quando há suspeita de risco à integridade
institucional. O porto é considerado uma zona primária, sob a jurisdição da
Receita Federal, o que amplia a responsabilidade estatal sobre qualquer
fragilidade nos mecanismos de segurança.
No plano
internacional, o alerta é igualmente grave. Países parceiros e organismos multilaterais
acompanham de perto o cumprimento de normas de segurança em portos de comércio
exterior. Qualquer indício de corrupção ou de tolerância com práticas ilícitas
pode levar à adoção de medidas restritivas, como inspeções adicionais e
barreiras técnicas contra mercadorias brasileiras. Isso significa atrasos
logísticos, aumento de custos para exportadores e prejuízo direto para a
competitividade do país no mercado global. Se a imagem do Porto do Rio ficar
associada a esquemas de propina e contrabando, o dano vai além do território
fluminense, atingindo a confiança internacional no comércio exterior brasileiro
como um todo.
O que a lei determina e os próximos passos
A legislação
brasileira não deixa margem para omissões. A Lei dos Portos determina fiscalização
integrada entre Guarda Portuária, Receita Federal e Polícia Federal. A Lei das
Estatais exige comprovação de experiência e reputação ilibada para cargos
estratégicos. A Lei Anti-corrupção pune pessoas jurídicas envolvidas em
esquemas de propina e facilitações ilícitas. Já a Lei de Improbidade, reformada
em 2021, mantém a necessidade de dolo para responsabilização de agentes
públicos, mas reforça o dever de transparência e prevenção de riscos.
O caso do Porto do
Rio exige medidas concretas. É necessário publicar os critérios técnicos da
nomeação, abrir auditorias independentes e garantir que os órgãos de controle
tenham acesso aos documentos da transição. A Receita Federal, a Polícia
Federal, a Controladoria-Geral da União e o Ministério Público precisam ser
oficialmente informados das mudanças. Somente assim será possível restabelecer
a confiança de que o Porto do
Rio está blindado contra ingerências e esquemas
Sem ação imediata, a
percepção de que a fronteira está aberta para a corrupção se consolidará, minando
a credibilidade institucional da PortosRio e expondo o Estado do Rio de Janeiro
como um território vulnerável. O alerta está dado. Agora cabe às autoridades
mostrarem que o Brasil não aceita um gabinete da propina instalado em pleno
coração do seu comércio exterior.
Fonte: Gazeta do Rio
de Janeiro
* Esclarecemos que a a publicação é de inteira responsabilidade do autor e do veículo que a divulgou. A nossa missão ao republicar é manter informado àqueles que nos acompanham, de todos os fatos, que de alguma forma, estejam relacionados com a Segurança Portuária em todo o seu contexto. A matéria veiculada apresenta cunho jornalístico e informativo, inexistindo qualquer crítica política ou juízo de valor. O espaço está aberto para a manifestação das pessoas e empresas citadas nesta reportagem.
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